O Dólar Vai Continuar Subindo? Entenda os Motivos por Trás da Escalada Histórica

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A alta histórica do dólar, que fechou a quarta-feira (18) cotado a R$ 6,26, tem gerado preocupação em todo o mercado financeiro e na economia brasileira. Esse é o maior valor nominal desde a implementação do Plano Real, em 1994. A moeda norte-americana já havia dado sinais de instabilidade ao atingir R$ 6,09 na terça-feira (17), marcando um recorde que foi rapidamente superado.

A disparada do dólar não é resultado de um único evento, mas sim de uma combinação de fatores internos e externos. Em novembro, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou a isenção no Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. A medida fiscal foi percebida pelo mercado como mais um desafio à sustentabilidade das contas públicas, contribuindo para o cenário de desconfiança.

Outro ponto crucial foi a declaração do presidente Lula, em entrevista ao Fantástico no domingo (15), de que o mercado não deveria interferir na política fiscal. A fala “pegou mal”, segundo economistas, ampliando as incertezas sobre a capacidade do governo de ajustar as contas no longo prazo.

Externamente, a decisão do Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, de reduzir a taxa de juros para o intervalo entre 4,25% e 4,50% influenciou o mercado cambial global. Juros elevados em economias consolidadas tornam esses mercados mais atrativos para investidores, reduzindo a circulação de dólares em países emergentes como o Brasil.

A relação entre a dívida bruta e o PIB brasileiro é outro dado que preocupa. Atualmente em 78,6%, essa taxa subiu sete pontos percentuais nos últimos dois anos. “Se continuar nesse ritmo, podemos atingir 85%, um patamar próximo ao observado durante a pandemia. Isso é insustentável”, alerta Marcelo Portugal, economista e professor da UFRGS.

Essa desconfiança tem levado à fuga de investidores. Multinacionais têm repatriado recursos e investidores estrangeiros buscam mercados mais estáveis. Lucas Borges, economista do Insper, compara a situação a um empréstimo bancário: “Neste momento, estamos bem, mas, em algum ponto, essa conta chegará”.

Outro fator que pode intensificar a pressão sobre o dólar é o retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, com posse marcada para janeiro de 2025. Durante a campanha, Trump sinalizou que pretende aumentar taxas de juros para equilibrar as contas internas. Essa política tende a atrair mais investidores para os Estados Unidos, diminuindo ainda mais a oferta de dólares em mercados emergentes como o Brasil.

Os especialistas acreditam que o patamar de R$ 6 pode se consolidar como um novo piso para o dólar no Brasil, caso o governo não apresente medidas concretas de ajuste fiscal. Embora o Tesouro tenha atuado para conter a escalada, a desconfiança persiste. O mercado está à espera de cortes reais nos gastos públicos para retomar a confiança no real.

Enquanto isso, a alta do dólar continua a impactar diretamente o custo de produtos importados, viagens internacionais e a inflação, colocando a economia brasileira em um terreno desafiador.

A combinação de fatores internos e externos sugere que a alta do dólar não deve recuar no curto prazo. Medidas fiscais efetivas e um ambiente global mais estável serão essenciais para conter a desvalorização do real e evitar impactos mais severos na economia. Por enquanto, a questão permanece: o dólar vai parar de subir?

Foto: Karolina Grabowska/Pexels