Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Monte Belos (GO)
Com um brado de angústia nossos primeiros pais perderam o paraíso. O grito de dor pela distância de Deus que se delineava no porvir do primeiro casal que andou neste mundo; o desespero enorme que descreve um Adão rogando para ser aniquilado ante a possibilidade de viver sem Deus são as cicatrizes deixadas pelo pecado das origens.
Conduzidos até às portas do Paraíso, que estavam para perder, nossos pais primeiros foram abençoados por uma revelação que haveriam de esquecer quando ultrapassassem os limites daquele jardim bendito. Entretanto, trariam a recordação do que lhes fora mostrado até os dias de hoje.
Foi revelado àqueles primeiros pais que a humanidade não estava perdida, e dela sairia a verde seiva que floresceria novamente, forjando um paraíso maior e melhor que o primeiro.
Nessa história contada e deslembrada tantas vezes a humanidade nunca perdeu o totalmente o rumo.
Naqueles dias foi revelado a eles que apesar da ruína que se abatera, e que ficou conhecida como o dia da perdição, eles haveriam de se levantar novamente.
Figuras memoráveis surgiriam no decorrer do porvir. Noé, salvo das águas por fidelidade; Abrão, pai de uma geração sem fronteiras; Isaac, progenitor de Jacó, que viria a dar nome a um povo. Moisés, libertador de muitos e arauto de Deus. Davi, rei querido e improvável, cuja descendência se estendeu até os dias do Messias.
Assim foi apresentado o porvir à Adão e Eva às portas do paraíso, e prestes a caminhar por aquela planície que viria ser o seu novo lar dentre pouco.
Agora consolados, porque Deus lhes havia mostrado o poder de sua constância e a capacidade de realizar seus desígnios, não importa quantas vezes o tentador tramasse para desfazê-los, eles estavam prontos para seguir o caminho do Oeste, quando ouviram Deus pela última vez na condição original que ainda ostentavam.
O murmúrio de Deus ecoou sobre o mundo, pois Ele descreveu o porvir de um acontecimento de ascendência sem igual que faria a humanidade retornar ao estado original por sua própria liberdade e obediência. Por isso, ao ouvir Deus pronunciar o nome de Maria nazarena, Adão e Eva intuíram que o fim seria melhor que o começo. O círculo não se fecharia no raio de uma felicidade perdida e recuperada, mas cresceria ainda mais beata que a primeira, e lhe seria superior em tudo.
Superior porque essa humanidade voltaria por sua própria vontade e liberdade. Voltaria porque Maria respondeu de maneira avassaladora o que lhe havia proposto o seu Criador.
O que fora corrompido conseguiu se regenerar com tamanha força que a plenitude do tempo se consumou, e o segredo guardado no Coração de Deus, que nós somos dele e ele é nosso, deu-se a conhecer.
Surgiu, assim, a humanidade nova! Toda ela capaz de se fazer imaculada novamente. Surgiu Maria Madalena; surgiram Pedro e Paulo; Ambrósio e Agostinho também. Surgiram Francisco e Antônio, e, por fim, uma multidão que ninguém mais pode contar, arqueada em torno de uma construção sólida, uma Igreja que não se deixa abalar. Foi deste modo que “voltamos todos com espolio e gloria para a ditosa terra prometida”.