A Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) vai receber a maior doação individual desde a sua fundação, nos anos 1940, no valor de R$ 35 milhões, para a construção de um instituto de referência em ensino e pesquisa em inteligência artificial (IA). A doação será feita pela Fundação Behring, organização filantrópica voltada para o desenvolvimento do Brasil por meio da educação de jovens em computação.
A Fundação Behring atua desde 2020 investindo em projetos de impacto no Brasil com o objetivo de desenvolver talentos em tecnologia. A entidade oferece bolsas de estudo para graduação no Brasil e no exterior e já possui mais de 100 alunos apoiados em universidades como a própria PUC-Rio e mais de 10 instituições públicas e privadas, como Harvard, MIT e Carnegie Mellon, que criou o primeiro bacharelado em IA nos EUA. Além de sua rede de bolsistas, a Fundação também atua na formação de estudantes do ensino médio por meio do Jovem Talento Tech, e no desenvolvimento de atletas por meio do Rio Aquatics, uma escola de esportes aquáticos que já impactou 2.000 jovens no Rio de Janeiro.
Com os recursos, a PUC-Rio vai construir o Edifício Behring, um prédio de 3,3 mil m² no campus da universidade para abrigar espaços de trabalho, salas de aulas e laboratórios de ponta em IA. O projeto está sendo realizado pela Bernardes Arquitetura, renomado escritório carioca que se disponibilizou a construir o conceito deste edifício de maneira pro bono. A doação foi formalizada mediante a assinatura de um contrato entre a PUC-Rio e a Fundação Behring.
O Instituto será um dos primeiros de uma universidade brasileira inteiramente dedicado à inteligência artificial com sede própria. A Fundação Behring é parceira da PUC-Rio desde 2021 com a oferta de bolsas de estudo a mais de 30 alunos, e agora juntas dão um passo marcante na história da universidade.
“A Fundação Behring já tem parceria com a universidade há alguns anos e, reafirma sua confiança na nossa gestão para ampliar o investimento e colocar a universidade no topo da pesquisa e do ensino da inteligência artificial, com impactos em diversos setores”, afirma o reitor da PUC-Rio, Padre Anderson Antonio Pedroso.
“A intenção é criar um hub de IA, um centro de estudos e de pesquisas avançadas, contando com a colaboração do nosso corpo docente e de professores de outros países, para dar cursos, seja na graduação, na pós, no ensino continuado, além de relevantes projetos de pesquisa. Ao mesmo tempo, a PUC-Rio vai manter sua marca de ser uma universidade voltada para o bem da sociedade, buscando promover um impacto socioambiental positivo no entorno e na cidade do Rio de Janeiro”, acrescenta.
Instituto em operação já em 2025
A missão do Instituto será a de desenvolver pesquisa e ensino de ponta sobre inteligência artificial, tratando de temas de grande impacto, em todas as áreas levando em consideração suas implicações éticas e socioeconômicas. As primeiras reuniões sobre assuntos pedagógicos do Instituto já foram iniciadas.
“A ideia é criar um ambiente com infraestrutura de ponta formando uma comunidade interdisciplinar de pesquisadores e alunos de excelência. Além disso, a visão é construir uma rede de parcerias com diversas universidades no Brasil e no exterior, além de empresas e outras instituições, formando um grande ecossistema capaz de trazer impacto positivo no Brasil por meio da IA”, afirma o CEO da Fundação Behring, Lucas Giannini.
“Nós temos um objetivo de fortalecer o ensino de tecnologia no Brasil e precisamos formar mais profissionais qualificados nesta área. Com o novo bacharelado em IA utilizando metodologias inovadoras, esperamos atrair novos talentos brasileiros para esta área tão promissora”, acrescenta.
Será criado um curso de bacharelado multidisciplinar que envolverá professores de matemática, informática, engenharias elétrica e industrial. A graduação tem previsão de início no segundo semestre de 2025, com uma turma piloto. Nos anos seguintes, a PUC-Rio pretende ofertar 100 vagas por ano, com um amplo programa de bolsas de estudo. O prédio, além das aulas, abrigará laboratórios, modernas salas de aula e um auditório que será o maior do campus da PUC-Rio.
Iniciativa é alinhada às prioridades do país
Há dois meses, Padre Anderson Antonio Pedroso recebeu a visita do secretário-executivo do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Luis Manuel Fernandes, também professor do Instituto de Relações Internacionais (IRI) da PUC-Rio, que proferiu a palestra “IA para o Bem de Todos: O Plano Brasileiro”. No encontro, o secretário-executivo apresentou o plano estratégico que visa o desenvolvimento e a utilização da inteligência artificial (IA) no Brasil.
Em julho, o governo federal lançou o “Plano IA para o Bem de Todos”, que prevê a compra de um supercomputador e investimentos de até R$ 23 bilhões para o desenvolvimento de inteligência artificial brasileira em diversos setores. “Vamos assumir o protagonismo nesse movimento nacional de se criar uma IA brasileira”, afirma o reitor.
A PUC-Rio desenvolve cerca de 60 projetos de grande envergadura e alta tecnologia, dos quais uma dúzia já utiliza a inteligência artificial. Com a criação do Instituto, a universidade intensifica sua atuação alinhada às prioridades nacionais, unifica suas iniciativas internas de IA e diversifica o espectro de convênios, atualmente muito conectado com a indústria de energia, petróleo e gás, ampliando as parcerias para outras áreas tecnológicas.
Pioneirismo da PUC-Rio
Com o ensino e pesquisa em inteligência artificial, a PUC-Rio reforça sua vocação de estar na linha de frente do que há de mais novo em tecnologia. A universidade foi pioneira em computação no país, quando foi escolhida para sediar o primeiro computador instalado no Brasil, um Burroughs Datatron B-205.
Foi o primeiro computador a operar produtivamente no país e o primeiro de grande porte para uso acadêmico na América Latina. Pesava pouco mais de uma tonelada e tinha memória de 24kB. Ao custo de R$ 10 milhões em valor atual, era a estrela do Centro de Processamento de Dados da PUC-Rio, inaugurado em 13 de junho de 1960 pelo presidente Juscelino Kubitschek, com a presença do cardeal Giovanni Battista Montini, que viria a ser o papa Paulo VI.
Pouco mais de uma década depois, em 1971, a universidade inaugurava o Rio Datacentro, que seria “o mais avançado centro de computação eletrônica da América do Sul”, construído com recursos provenientes do BID (empréstimo ao governo brasileiro), da Usaid, do MEC, da Capes e da própria PUC-Rio.
Agora, em 2024, com esta doação e criação do Instituto, mais um passo decisivo é dado nesta trajetória da PUC-Rio nas fronteiras da tecnologia.
Fonte: PUC-Rio