Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO)
Que a época moderna acabou já foi murmurado por Papas, filósofos e poetas. Acabou ou está acabando, esta parece ser a questão. De qualquer modo tem a ver com o ocaso de uma época que foi muito boa.
Viver no cruzamento de duas épocas não é fácil! No cruzamento do mundo surge a melancolia dos fundamentos perdidos. Uma desconfiança geral de que coisas forma jogadas na forja sem que haja certeza sobre o resultado no tempo futuro.
Nesta abertura surge uma segunda melancolia epocal – a falta de perspectiva de ver a reconstrução do mundo, algo que ainda estamos tentando a nos acostumar.
As coisas são a realidade do mundo que surge nesta abertura. Tudo foi lançado, desde algum tempo, na temperatura escaldante da mudança. Neste ponto surge o embate entre o que agora é e o novo que vem.
Entretanto, a filosofia já nos ensinaou a olhar para as coisas até alcançarmos a sua compreensão. Este tempo é o tempo filosófico. A pressa tem que ser subtraída até que aquilo que será seja.
O Mundo está mudando! No limiar da próxima década a inteligência artificial, aliada à conclusão do ciclo de produção e consumo, que foi o motor da modernidade, apresentarão uma realidade eletrizante de transformação e deslocamento. Não há jeito de frear esse movimento. Não por enquanto! Do mesmo modo, não há jeito de antecipar a época que está chegando com uma ética ou código deontológico.
A nossa ética foi formulada a partir da experiência vivida e do enfrentamento de questões passadas. Não podemos desacelerar o tempo presente, mas podemos desacelerar a nós mesmos e as instituições, até que o pensamento emoldure a realidade, e alguma janela se abra.
Contemplar o mundo no tempo que se acelerou sem a tentação de firmá-lo é uma boa alternativa.
O tempo agora está abreviado. Não abreviado no sentido que encurtou, mas, breve diante da multidão de acontecimentos que não são de nossa experiência comum. Abreviou-se como alguém que possui muitas atribuições e vê os meses passarem como dias e os anos como semanas. Assim é o tempo presente!
O presente é o tempo abreviado e esfacelado! Nem os mais sábios conseguem reagrupá-lo agora.
Contraditoriamente, por não se poder ter controle sobre o presente, tenta-se possuir o controle sobre o futuro. Mas isso é só uma satisfação diante de um presente descontrolado.