Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO)
A última oração de Jesus foi por nós. Ao se dirigir ao Pai, quase sempre, Jesus o pede que cuide de nós; agora, na conclusão do tempo Pascal, Ele nos emociona ainda mais com a sua ternura.
Jesus recorda que nós somos do Pai, mas o Pai nos confiou a Ele. E, mesmo se muitas vezes fraquejamos na fé aprendemos a resistir e a nos tornarmos fiéis. Falando de nós Jesus disse: “Eram teus, e tu os confiaste a mim, e eles guardaram a tua palavra (Jo 17,7). Nesse diálogo sublime entre o Pai e o Filho nós somos reapresentados a Deus. Já não somo mais como antes, Jesus nos transformou e agora pode se orgulhar de nós, pois o temos em nosso coração, Ele que é a Palavra do Pai.
Na despedida final, quando encorajados, mas ainda assim tristes, porque o nosso Senhor e amigo retorna ao céu, Ele sabe dos perigos que correremos. Ele sabe que ficaremos mais um pouco por aqui e que continuaremos a precisar dEle. Por isso, novamente volta-se para o Pai, e clama: “Já não estou no mundo,
mas eles permanecem no mundo, enquanto eu vou para junto de ti” (Jo 17,11).
O cuidado que Jesus teve conosco compete agora a Trindade inteira. Ele pediu por isso. A sua compaixão o impede de nos deixar. Não somente de nos deixar sem Ele, mas também de nos deixar a nossa própria sorte, afinal de conta nós somos dele.
Agora, então, aclarou-se o olhar na direção do infinito e, finalmente, pudemos ser abraçados pelo amor e pela vigilância de Deus. Ele voltou, nós ficamos, mas tudo foi preparado para que nunca mais ficássemos solitários de novo.
Assim, ao entardecer do dia, Jesus continua a demonstrar ao Pai o quanto nos ama. O que Ele recebeu de presente agora é o objeto único de sua afeição. Fomos amados com tamanha desmedida que o própria Deus retarda a sua partida para se assegurar que nós ficaremos bem. Num sussurro divino, Aquele que nos recebeu não quer mais nos devolver, e murmura: “Tudo o que é meu é teu e tudo o que é teu é meu.
E eu sou glorificado neles” (Jo 17,10).
Em nós Jesus quer ser glorificado. De criaturas que éramos passámos a condição de Filho.
Filhos no Filho, não podemos mais nos desvencilhar dEle. Ele em nós, e nós e nós nEle, formamos uma família inquebrantável, acimentada no amor e na fé. Na dúvida recorremos a Ele e, até hoje, Ele nunca nos desamparou. Nunca perdemos a fé e a nossa esperança sempre é constantemente renovada, mesmo quando parece impossível.
Essa é uma confiança que não vem de nós mesmo, mas dEle. Antes de partir Ele fez a oração derradeira Àquele que tudo pode, e essa oração foi por nós. Deixando todo o resto de lado Ele implorou: “Eu te rogo por eles. Não te rogo pelo mundo,
mas por aqueles que me deste, porque são teus (Jo 17,9). E, desde aquele dia, perambulamos pelo mundo com a leveza e a certeza de quem tudo pode, porque somos dele, e o seu cuidado é infindo!