Algumas lembranças que tenho da infância, têm rodoviárias como cenário. A antiga de São Luís; a de Firminópolis, que funcionava perto da Avenida Goiânia, espaço que depois foi cedido à Polícia Militar Rodoviária; também a de Iporá que era novinha e moderna nos anos 80; e a de Goiânia, que ficava no Lago das Rosas, onde hoje é o quartel do Corpo de Bombeiros. Me lembro inclusive da viagem que fiz com minha avó para a casa de meu padrinho de batismo, Divino Luiz, e que fomos ao Parque Mutirama. Depois repeti a dose em outra viagem com minha mãe junto. Me lembro de ir também para Aurilândia, minha terra natal, e passar debaixo da catraca do ônibus. Me recordo até do dia em que o cobrador me barrou dizendo que a partir daquele dia eu teria que pagar passagem e não poderia mais passar debaixo da catraca. Não sei o nome do cobrador, mas me lembro até da fisionomia dele. Sem falar que me recordo da fisionomia séria do motorista Argentino. Outro motorista de ônibus que marcou minha infância foi o Albino, que hoje é taxista. Na época existia um coletivo que circulava na cidade de São Luís e eu e colegas gostávamos de passear nele aos domingos. O Albino era bem novinho e dirigia o coletivo. Mas eu quero falar sobre a rodoviária, lugar que me deixa bem, quase nunca pela beleza, claro, mas pela forma como revela tantas formas do ser humano. As faces cansadas de quem aguarda a viagem, os acenos de quem se despede, as bagagens mal ajambradas de quem aposta num futuro incerto. Os andarilhos, os personagens da noite, os cochilos, o barulho dos freios a ar e dos motores dos ônibus que aceleram são mais elementos desses espaços sociais. Quando viajo hoje em dia, tenho certa curiosidade de lançar um olhar sobre as rodoviárias de beira de estrada. Já dormi, junto com o saudoso Lindebergh Evangelista, na rodoviária de Goiânia, quando víamos de Brasília e queríamos continuar na capital goiana no dia seguinte. Isso porque na época eu sendo um adolescente sistemático, não quis dormir na casa de uma parente dele na capital federal. Já me encantei com grandes rodoviárias também. Mas minha ligação com rodoviária hoje é diferente, e vou contar já já. Antes só quero revelar que quando fazia a sétima série eu tive vontade de ser cobrador de ônibus, queria até parar de estudar para ficar só viajando e comendo de graça nos restaurantes das rodoviárias. Isso porque o hoje policial Reinaldo, o Rei, dizia que tinha sido cobrador e era desse jeito a vida deles. Também de vez em quando eu gosto de matar saudade da infância, passeando de ônibus. Mas hoje minha ligação com rodoviária tem a ver com os bons papos que costumo ter com o pessoal dos guichês, com os motoristas, com os responsáveis também pelas rodoviárias. Cito em São Luís de Montes Belos, a Linda Maria Maia, que aos poucos vai dando uma nova cara ao nosso terminal rodoviário, o Antônio Baroni e seus filhos, que cuidam daquele ambiente como se fosse a casa deles. Também gosto de conversar com os taxistas. É de lá que tiro minhas conclusões de como andam as coisas no geral. É um pessoal antenado, que está por dentro das coisas. Isso me faz bem, principalmente nas manhãs de sábado, quando tenho tempo para essa possibilidade. É bom também conversar com o Alessandro Martins sobre Futebol, enquanto ele aguarda a chegada do Jornal O Popular que vem pelo ônibus. Sem falar que da rodoviária posso apreciar a beleza da natureza, formada pelos montes belos e pela Fazenda Bela Vista da família Barbosa Marinho, que teve como patriarca o saudoso Joaquim Leonardo. E um fato pitoresco ocorreu comigo outro dia, quando um rapaz bem apessoado desceu do ônibus e me cumprimentou dizendo Bênção Tio. Respondi educadamente Deus te Abençoe, mas desconfiado que pudesse ser trote ou brincadeira, a verdade é que ele estava pegando frango comigo. Chegava de longe para conhecer seus parentes e ficou de um tio, que segundo ele, na foto se parecida comigo, ir recepcioná–lo. Como eu precisava ir embora para cumprir um compromisso, não pude esperar o parente dele chegar para saber quem era. Deixei o passageiro à espera do verdadeiro tio e fui embora torcendo para que ele não se enganasse novamente com outra pessoa. E você leitor, tem algum ambiente simples que te faz bem, como a rodoviária me faz? Conte aqui pra gente.
Foto: behance.net
Aparecido Eterno / Jornalista da RDR