Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO)
No alvorecer do mundo quando a sede de luz e de esperança era constante, o povo parou para ouvir Jesus de Nazaré!
Seu sermão inaugural chancelou o mundo que estava porvir. Foi a novidade absoluta furtada aos céus e aportada na terra. Na poeira daqueles dias suas palavras irromperam como um grito jamais ouvido, mas sempre desejado e esperado.
No meio da multidão sedenta e desesperada, acometida por todo tipo de doença e sofrimento, Jesus olhou nos olhos de seus apóstolos, pouco antes escolhidos, e disse: “Bem-aventurados os pobres, porque deles é o Reino de Deus” (Lc 6,20).
Jesus falou olhando para os discípulos a respeito daqueles que os cercavam. Não falou diretamente para a multidão. É a segunda entrada de Deus na história. A primeira se deu com a Encarnação, esta com a preocupação humana de quem quer encontrar uma solução para as dores do mundo. Por isso Jesus proferiu este sermão olhando para os seus discípulos.
Profetizou a respeito dos pobres e sofredores, oferecendo-lhes a prioridade no Reino dos Céus, para que os seus seguidores pudessem compreender.
Jesus os apresenta aos pobres do mundo. Muda a prioridade da missão! E ao fazer isso, olhando para eles, manifestou o desejo de ser ajudado com essa questão.
Depois Jesus olhou para os pobres e disse: “bem-aventurados sois vós, que agora tendes fome, porque sereis saciados” (Lc 6,21). Como Deus provedor anunciou a correção dos infortúnios deste mal antigo porque era o único que tinha a autoridade para fazer; e, de fato, o fez!
A Igreja sabe que os pobres são os bem-aventurados; e, história adentro, desde os abismos do tempo, luta para amenizar sua pena. A fome de pão, a fome da Palavra, a fome do Céu, tudo isso a Igreja continua providenciando em medida espantosa. Os discípulos aprenderam deste ensinamento, e, até hoje, o Senhor nunca os decepcionou ou desamparou.
Então Jesus olhou ainda mais profundamente nos olhos dos pobres. Olhos carentes de toda sorte de justiça que o mundo tem, desamparados e impedidos de viverem e morrerem no deserto que não lhes permitia nada. Olhos abissais e sem vida. Olhos que ninguém lhes reconhecia porque privados de qualquer brilho que pudesse revelar, ainda que tenuamente, traços de existência. A eles, naquele dia na encosta do monte, Jesus disse: “Bem-aventurados vós, que agora chorais, porque haveis de ri” (Lc 6,21).
É Ele mesmo quem se encarrega de providenciar as bem-aventuranças neste mundo tão dilacerado e sofrido. O seu prover é garantia de realização, porque nunca se ouviu dizer que Deus não cumprisse uma de suas promessas. Todos ficaram de pé e acreditaram. Mas tinha mais!
Jesus creditou a nós, homens e mulheres do tempo porvir, a enfrentarmos esta empreitada. Creditou à Igreja santa, sua amada, a missão de descortinar no tempo o espaço amigável para os seus diletos.
Em poucas linhas, portanto, o Senhor modificou a cultura e encorajou a humanidade a forjar um caminho novo. Ele nos encorajou para que o Reino de Deus jamais desaparecesse da face da terra ao dizer: “Bem-aventurados, sereis, quando os homens vos odiarem, vos expulsarem, vos insultarem e amaldiçoarem o vosso nome, por causa do Filho do Homem! Alegrai-vos, nesse dia, e exultai pois será grande a vossa recompensa no céu (Lc 6,22-23). É com essa disposição de não sermos reforjados por mais nada que não seja o Senhor, que vencemos até hoje.
O Sermão da montanha é o mais belo de todos os sermões não por causa de sua métrica, mas porque é criativo, e o resultado de sua criação é o mundo de Cristo.