No mês de conscientização sobre o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), conhecido como outubro Laranja, a Rede Diocesana de Rádio (RDR) recebeu o psiquiatra Dr. Pedro Henrique de Moraes Nasser para esclarecer os desafios enfrentados por crianças e adultos diagnosticados com o transtorno. Na entrevista, Dr. Pedro Nasser desmontou mitos populares, destacou a importância do diagnóstico precoce e alertou sobre o uso indiscriminado de medicamentos sem o acompanhamento terapêutico adequado.
Segundo o especialista, o TDAH é uma condição neurodesenvolvimento que afeta cerca de 5% da população mundial, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Ele explicou que o transtorno é caracterizado pela presença constante de desatenção, impulsividade e, em alguns casos, hiperatividade, prejudicando a qualidade de vida de quem o enfrenta. “O TDAH não é apenas uma questão de comportamento ou ‘falta de limites’, como muitos ainda pensam. Trata-se de uma disfunção na autorregulação mental e no controle de impulsos, que exige abordagem multidisciplinar e muito entendimento de familiares e professores”, destacou Dr. Pedro.
Durante a conversa, o médico fez questão de esclarecer que o diagnóstico do TDAH deve ser realizado por profissionais capacitados e somente após uma avaliação criteriosa. “O diagnóstico de TDAH não se baseia apenas na desatenção. Para ser considerado, os sintomas devem persistir por ao menos 12 meses e estar presentes em diferentes contextos, como na escola, em casa ou no trabalho. Além disso, eles precisam impactar significativamente a rotina diária da pessoa”, explicou Dr. Pedro.
Ele alertou que o transtorno pode ser confundido com características comuns a qualquer criança ou adolescente, especialmente em fases de desenvolvimento em que a curiosidade e a energia são mais intensas. “É preciso ter cuidado, pois um diagnóstico equivocado pode levar a tratamentos desnecessários, enquanto o real transtorno continua sem a abordagem necessária”, acrescentou.
Para Dr. Pedro, o tratamento do TDAH deve ser pensado de forma personalizada e multidisciplinar. Embora a medicação seja uma opção amplamente utilizada, o especialista salientou que ela não deve ser a única forma de abordagem. “A medicação, como os estimulantes, pode ser eficaz no controle dos sintomas, mas é importante que o paciente também tenha acompanhamento com um psicólogo para aprender técnicas de organização, controle de impulsos e estratégias comportamentais”, afirmou.
O psiquiatra também ressaltou a importância de envolver a família e a escola no processo terapêutico, principalmente no caso de crianças e adolescentes. Segundo ele, professores e pais desempenham um papel fundamental na criação de um ambiente que favoreça a concentração e a disciplina dos pequenos. “Criar rotinas e utilizar ferramentas visuais, como calendários e horários fixos, são estratégias que ajudam a criança a lidar melhor com as demandas do dia a dia”, explicou.
Desinformação e Mitos sobre o TDAH
O Outubro Laranja também levanta a bandeira contra mitos e preconceitos sobre o TDAH, que muitas vezes dificultam o acesso ao diagnóstico e ao tratamento. “Infelizmente, existe muita desinformação. Ainda é comum ouvir que o TDAH é uma ‘desculpa’ para justificar comportamentos indisciplinados ou que os pais são culpados pela falta de controle dos filhos. Esse tipo de julgamento prejudica quem mais precisa de ajuda e compreensão”, afirmou o especialista.
Ele enfatizou a importância de iniciativas de conscientização como o Outubro Laranja, que trazem à tona a necessidade de discutir o TDAH de forma séria e respeitosa. Dr. Pedro explicou que, quanto mais as pessoas entendem o transtorno, mais apoio e compreensão as famílias e os próprios diagnosticados recebem da sociedade. “É fundamental que o TDAH seja visto pelo que realmente é: um transtorno que merece atenção e cuidado, não uma escolha ou um defeito de caráter”, pontuou.