Current track

Title

Artist

Vocação e discernimento: reflexão à luz do 4º Congresso Vocacional do Brasil

Escrito por em 11 de setembro de 2019

O IV Congresso Vocacional do Brasil aconteceu em Aparecida do Norte, na casa da Mãe Aparecida, do dia 05 a 08 de setembro. O Congresso entra na linha de uma série de eventos que nos mostram: a Pastoral Vocacional tem uma história. O Padre Ângelo Mezzalli nos ajudou a conhecer melhor a história da PV, e foi importante perceber por quais caminhos o Senhor da Messe tem conduzido a sua Igreja, nesse campo pastoral. Desde o Concílio Vaticano II (1962-1965) e a instituição do Dia Mundial de Oração pelas Vocações (1964) até esse IV Congresso nacional, muito já foi feito e damos graças a Deus por tudo isso. Mas hoje, parece que o Senhor tem chamado nossa atenção para o Discernimento.

O Padre Amedeu Cencini, ao lidar propriamente sobre o tema do IV Congresso (Tema: Vocação e Discernimento; Lema: “Mostra-me, Senhor, os Teus caminhos!” – Sl 25,4), deu orientações bastante precisas e importantíssimas aos agentes não só da Pastoral Vocacional, mas de toda comunidade Igreja. Dentre elas está a necessidade de desconstruirmos a ideia de que Vocação é tema só da Pastoral Vocacional.

Vocação é para todos, é assunto de todos, cabe em todas as Pastorais, Movimento e Grupos, em todos os eventos e encontros da Diocese. Por que? Porque Vocação é fundamentalmente uma questão de vida cristã. Todos nós somos chamados, pelo Batismo, à santidade. O Papa Francisco mostra isso claramente na carta Gaudete et exsultate. Precisamos aprender a encarnar o chamado à santidade “no contexto atual, com os seus riscos, desafios e oportunidades, porque o Senhor escolheu cada um de nós “para sermos santos e íntegros diante dele, no amor” (Ef 1,4).”1 Vocação é questão de realização de vida, por isso a ideia do Projeto de Vida é tão valiosa.

Por este instrumento é possível fazer o discernimento da própria vida e vocação. Sozinho? Não. Nenhum de nós está sozinho nessa! O discernimento implica a colaboração de alguém, um irmão mais velho, capaz de orientar nesse projeto, acompanhar os passos do processo de descoberta e realização vocacional. Esse “irmão mais velho” pode ser o Padre, uma Religiosa, um agente de qualquer uma das nossas pastorais, um casal bem engajado na Igreja… alguém capaz de promover esse acompanhamento. Primeiro, deve-se conhecer qual é o projeto que o jovem já tem, seus anseios, medos, dúvidas e sonhos. E a partir de então, propor pistas de reflexão e ação que o ajude, ele mesmo, a se avaliar e confrontar seu projeto pessoal com o projeto de Deus.

O jovem deve se sentir livre, jamais pressionado a seguir por aqui ou ali. Ele é capaz, com a graça de Deus e com as pistas e orientações certas, personalizadas e de acordo com a sua realidade, de crescer no próprio discernimento e escolher livremente os passos que precisa dar, rumo a realização de sua vida. Os jovens esperam por essa companhia e orientação na vida.

Nesse sentido, também destaco a necessidade de se enfrentar com coragem o diálogo com os jovens. Eles não estão errados em questionar, em duvidar, em não dar atenção e ouvido ao que repetimos como “papagaios” em nossos encontros. Será que não é a hora de perguntarmos a eles o que querem ouvir, nesse campo da vocação que é tão vasto?

Talvez eles não estejam interessados em ouvir, por exemplo, sobre a vocação sacerdotal diocesana, mas queiram saber mais sobre o matrimônio. E se surgir o interesse de conversar sobre exorcismo, aborto, prostituição, internet, homossexualidade, mídias… por que não? Em todos esses assuntos cabe uma ótima orientação vocacional, capaz de ser adaptada ao que eles querem e precisam ouvir.

Se nós nos desviarmos desses assuntos, eles encontrarão outros que falem. E será legítimo quando forem buscar respostas em outros lugares. Para tanto, precisamos nos capacitar e nos abrir ao diálogo, para saber o que dizer e como dizer. Não preciso saber tudo! Se não sei, digo que não sei. Mas, se me coloco a serviço da animação e orientação vocacional de outro vocacionado como eu, não posso sair do diálogo com ele, um jovem questionador, sem dar uma orientação a quem direta ou indiretamente a pede.

Se há uma pergunta, há um interesse, seja qual for a pergunta. E esse interesse deve ser valorizado e pode ser direcionado, discernido, na busca do que realmente se anseia no fundo de todo coração: a comunhão com Deus, a conformação do meu projeto pessoal com o projeto que Deus tem para mim. A oração pessoal e a vida sacramental são indispensáveis nessa missão.

Precisamos aprender a formar as consciências e não substituí-las. A consciência é o sacrário da pessoa, o lugar onde Deus se comunica com ela e é a expressão da sensibilidade pessoal. A sensibilidade foi o outro grande assunto tratado pelo Padre Amedeu. Por ela, os acompanhadores encontram uma verdadeira “constelação” de pistas, pelas quais é possível proceder e colaborar com o discernimento vocacional de alguém.

A pergunta a ser respondida é: Quais as sensibilidades desse jovem? Por sensibilidades entende-se: sensibilidade intelectual (busca pela Verdade), do belo (capacidade de contemplar a beleza das coisas), moral (o certo e o errado), teológica (a relação com Deus), penitencial, de fé, de obediência, de oração… ou seja, sensibilidades que são importantes e estão presentes no coração de quem deseja fazer a vontade de Deus.

De fato, não é possível pretender que os jovens de nossas comunidades tenham todas essas sensibilidades bem desenvolvidas. Mas o desejo, o interesse por elas, sim! Elas podem e devem ser promovidas. Para isso, é fundamental que o acompanhador observe também suas próprias sensibilidades: sensibilidade para com a pessoa (no tratamento personalizado), sensibilidade no discernimento dos espíritos (entre o que vem de Deus e o que não vem de Deus) e a sensibilidade para os planos de Deus (que geralmente se distinguem dos sentimentos e gostos pessoais).

A tarefa é árdua, mas extremamente gratificante. Os Padres podem associar esse acompanhamento e discernimento vocacional com a Direção Espiritual de seus jovens. O fruto esperado de um sério acompanhamento e discernimento vocacional é a felicidade, ou seja, a realização pessoal de alguém que se descobriu vocacionado.

Anima-nos saber que as verdades cristãs não se contrapõem às verdades humanas. Antes as completa e plenifica. Jesus, o Bom Pastor, nos diz: “Eu vim para que tenham a vida e a tenham em abundância” (cf. Jo 10, 10). A Boa Nova de Jesus Cristo deve ser anunciada com ânimo, coragem, destemidamente. Não é preciso “baratear” a mensagem, nem cair na ilusão de que os jovens não estão prontos ou não são capazes de ouvir tal mensagem, com suas exigências e desafios.

A virgindade, a castidade, a doação da própria vida a serviço dos outros na Igreja, a renúncia, a fidelidade no matrimônio, a fidelidade na vida sacramental… nada disso perdeu a validade e podem sim ser vividos com aquela santa satisfação e alegria que só Deus pode dar, porque nos conhece e nos quer felizes. Uma firme advertência, dentro de um sério acompanhamento de discernimento vocacional, dói bem menos que as consequências na vida do jovem e da Igreja quando ela deveria ter sido feita, mas foi negligenciada.

Diante do lema desse IV Congresso, já conhecemos a resposta: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vem ao Pai a não ser por mim” (Jo 14, 6). Portanto, somos todos chamados a testemunhar essa resposta. “Jesus te ama, te salva e está vivo!” Eis o conteúdo fundamental possível de estar presente em todo diálogo vocacional. Se o jovem tiver que seguir para a direita ou para a esquerda, vocação diocesana, religiosa, matrimônio, leigo consagrado, missionário… é Deus quem vai colocar no coração dele o desejo de ir, de segui-lo nesta ou naquela doação de vida. Vocação é questão de amor que é doação, total, fiel e fecundo. Para tanto, a liberdade e a verdade são tão importantes quanto o discernimento orante e a reflexão.

Somos chamados, com Padre Amedeu e toda a Igreja, a perceber que estamos em um mundo novo, com jovens novos, com novas exigências e possibilidades. Estamos caminhando para o surgimento de cristãos cada vez mais convictos de sua fé, conscientes de sua escolha. Eis um olhar extremamente positivo para os jovens do nosso tempo. Um cristianismo católico de minoria? Bem possível.

Mas de uma minoria com qualidade, corajosa… que não teme entregar a vida para Deus, que deseja ser feliz e que já não se contenta com superficialidades de discursos vazios, porque estão cheios de ilusões e mentiras… Estão desejosos e capazes de discursos mais bem fundamentados na doutrina da Igreja e na vida comunitária, e por isso, serem mais abertos ao diálogo com todos, inclusive com aqueles que não creem… com mais disponibilidade de ouvir e dizer o essencial.

Afinal, estamos convictos, como o Papa Francisco: “Cristo vive: é Ele a nossa esperança, e a mais bela juventude deste mundo! Tudo o que Ele toca se torna jovem, se torna novo, se enche de vida.” (Christus vivit, 1).

Meu irmão e minha irmã, acredite e não tenhas medo, Cristo vive e te quer vivo! Por isso, peçamos juntos: Senhor da messe e Pastor do rebanho, continuai a passar em nossas comunidades e toque-nos, desperte-nos para a verdadeira Vida que só vós podeis dar. Conduza-nos, Diocese de São Luís de Montes Belos, para cumprirmos a vossa vontade.

Que o exemplo da vida de São Luiz Gonzaga não saia dos nossos horizontes vocacionais, mas antes apareça sempre mais como seta segura que aponta para o Cristo, ensinando-nos a segui-lo na santidade e doação da própria vida. Que a Virgem Maria, Mãe da Santa Esperança, interceda por nossa caminhada diocesana, e nos torne dignos e capazes de testemunhar nossa vocação. Somos uma grande comunidade de vocacionados! Bendito seja Deus por isso!

Laurito Nazaré Alves Deliberto, seminarista do 4º ano de Teologia

08/09/19


Reader's opinions

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *



Current track

Title

Artist